Resolvi inaugurar o blog com esse tema, porque já fez parte de muitos papos com colegas meus. Amo tecnologia, não vivo sem internet, smartphone, tablet, etc etc etc, mas gostaria de frisar que não utilizo tradutores na hora de trabalhar – questão de opinião e preferência mesmo. A intenção desse post é mostrar pra vocês um comparativo entre o tradutor eletrônico e o humano, provando que o humano sempre será a melhor opção. Mas vou pedir que tenham persistência: para uma batalha tão épica quanto a discussão “homem versus máquina” na área de tradução, acaba que a duração do post não deixou por menos. 😀 Então, vamos começar?
Minha experiência
Trabalho como freelancer há 6 anos, já virei a noite muitas vezes e já cansei demais minha cabeça. Posso até brincar dizendo que sou freelaholic, viciada em trabalho, mas sempre soube quando parar. Afinal das contas, trabalhar com a cabeça cansada não traz bons resultados – e sem bons resultados, nenhum profissional fideliza seus clientes. De acordo com o NY Times, o tradutor humano saturado comete tantos erros quanto o tradutor eletrônico. E, então, a substituição “tanto faria”. Logo, a saturação é o principal ponto negativo de se usar um tradutor humano. Por outro lado, esse problema pode ser facilmente evitado: basta que o profissional lembre que não é uma máquina e que precisa descansar. Sei que é difícil ser autônomo e não ter renda fixa, mas é importante ter em mente o seguinte: você não quer ser o profissional que não parou para descansar, que deixou vários erros passarem, mas fez mais dinheiro hoje. Porque esse cara, amanhã, vai perder os clientes. É muito melhor ganhar menos hoje e ganhar mais depois, com clientes fidelizados e clientes novos (vindos de indicações), do que tentar consertar uma reputação manchada.
Ao longo dos meus 6 anos trabalhando com tradução de textos, já tive alguns clientes que contrataram meus serviços justamente porque contaram com um computador para traduzir e detestaram o resultado do trabalho. Expressões idiomáticas traduzidas literalmente, piadas sem graça nenhuma, rimas perdidas, ditados sem significado na nossa cultura e expressões “politicamente incorretas” são os erros mais comuns das traduções feitas por computador. Com certeza, um software de tradução jamais se cansará e não precisará de alguns dias para traduzir 240 páginas. No entanto, será que ele vai conseguir traduzir uma piada? Um poema? Será que vai se preocupar com o politicamente correto? E com a satisfação do cliente?
Traduções “híbridas”
Eu não sou dessas pessoas que se desesperam, achando que robôs vão tomar nossos empregos. Eu tenho a convicção de que uma máquina nunca será tão capaz intelectualmente e tão sensível a nuances, humor e cultura quanto o ser humano. É por isso mesmo que não utilizo tradutores eletrônicos nas minhas traduções. No entanto, não condeno totalmente o uso dessa tecnologia (mas notem:) pelo próprio profissional de tradução. Afinal, alguém vai ter que corrigir os erros de escrita, concordância e tradução que os computadores certamente irão cometer. Só um tradutor humano tem a bagagem e a sensibilidade necessária para distinguir o certo do errado – e, muitas vezes, não serve qualquer pessoa também não.
Vou dar um exemplo bem prático. Dêem uma olhada na minha apresentação pessoal, na seção A Freelaholic. Quando falei de mim mesma, quis ser bem descontraída e usei uma frase em inglês que diz o seguinte: “one good laugh a day keeps the doctor away“. Há três coisas muito importantes nessa frase: primeiro, o significado como um todo; em segundo, a rima, que foi uma forma descontraída de me expressar; e, por último, o fato de ser uma frase comum na cultura americana – e acredito que de outros países também. Agora, vou jogar no Google Tradutor e vamos ver o que o rapazinho vai me sugerir como tradução:
Pra começar, já digo que o cliente do trabalho não gostou. E eu sei disso porque o cliente sou eu. Eu queria manter o bom humor e uma tradução literal não tem nada de divertido. Também queria usar uma frase que significasse algo a mais para o leitor. Quando eu traduzi a frase, lá mesmo na seção onde me apresentei, optei por um ditado nosso: “rir é o melhor remédio”. Tive que abandonar a rima, mas consegui passar o mesmo significado: de que o humor e a descontração fazem bem, portanto não devem ser vistos como sinais de imaturidade. Isso, com certeza, o Google não cogitou. Ai ai ai, bobinho!
Uma coisa que me incomoda demais nas traduções eletrônicas vocês podem ver na imagem acima: o Google entendeu que doctor away era uma expressão só. Ou seja, que o away caracterizava o médico. Só que não é assim. Away não atua como um adjetivo para médico, mas sim como um advérbio na frase. O médico não é distante, não é uma pessoa fria nem insensível. Ele só fica bem longe de mim, desde que eu ria bastante todo dia. É bem diferente, não? Ou seja, traduziu errado.
Homem vs Máquina: o último round
No final das contas, tudo depende de bom senso. Da parte do consumidor final da tradução e da parte do tradutor (e só do tradutor humano mesmo, já que máquina não tem bom senso). Se eu quero fazer um abstract pra minha monografia, tenho duas opções: peço a um ser vivo para fazer ou tento jogar no Google Tradutor, pra ver qual é. Se eu preciso que alguém faça a tradução, naturalmente não sei inglês (ou sei lá que outro idioma) o suficiente pra traduzir sozinha – isso significa que eu também não vou saber corrigir os possíveis inevitáveis erros do tradutor eletrônico. Então, já não é uma opção, né. Contrato alguém. Aí começa o bom senso o código de ética do profissional: se você está saturado e não sabe nem ver as horas no relógio, não aceite o trabalho. Se aceitar o trabalho, faça com a cabeça descansada e faça você mesmo. Pelo menos, eu penso assim. Sabe por quê? Porque a máquina jamais pensará como você. Ela não vai se preocupar se o autor ia preferir manter a literalidade ou a rima. Ela não vai se importar se o cliente ficou satisfeito com o resultado e se vai recomendá-la a outras pessoas. E ela não vai ter “jeitinho” para escolher as palavras. O melhor exemplo disso é escolher traduções polêmicas, como as relacionadas à raça ou à orientação sexual. Quer ver?
Calma, isso não quer dizer que o Google BR é racista. Deixando de lado o fato de que a máquina também não soube dizer se “Ana” é nome de homem ou de mulher – e que acabou chutando errado -, vou falar especificamente da questão cultural das palavras. Para quem não sabe, se referir à cor de alguém com a palavra black, em inglês, não é ofensivo. Em compensação, aqui no Brasil, “preto” é. Vamos usar logo então a alternativa politicamente correta lá nos states, african american. “Africana americana”? Não, afrodescendente. Ou então: afro-brasileira, se a Ana for brasileira; ou afro-americana, se a Ana for realmente de lá de cima.
Depois de jogar o top of mind de tradução eletrônica (vulgo, Google Tradutor) na parede, acho que provei meu ponto, né?
Moral da história: o ideal sempre será contratar um humano. Mas é importante que o cliente e o contratado cheguem a um acordo: o profissional cuida de fazer o melhor trabalho possível, da melhor qualidade, com o máximo de atenção e sensibilidade possível e o cliente se compromete a não assassiná-lo se ele trocar uma vírgula de lugar. Porque, como apresentei aqui, a tradução humana tem a maior qualidade e o menor número de erros, se feita com dedicação, ética e comprometimento – coisas que a máquina não terá em relação a você, Sr. Cliente!
E você, qual sua opinião sobre essa batalha? Obrigada pela leitura e até o próximo post.
Aperto de mão, Ana
Olá!
Muito boa a sua pontuação, podemos levá-la também para o lado do design, muitas pessoas, ao invés de contratar um cara formado, que entende de design, de teoria das cores, posições (posição da composição tá gente?) entre outros conceitos, contratam uma gráfica rápida para fazer um banner, ou cartão de visitas, entre outras, e o povo da gráfica faz em meia hora a arte e a impressão.
– Mas como ele faz isso? Mágica?
Não mesmo, ele usa um maldito gerador automático, que mistura cores, fontes, bagunça tudo e o cliente paga uma merreca e sai satisfeito, sem querer saber o que aquela imagem realmente passa para o cliente, ou o potencial cliente.
Muitas vezes, um folder de um restaurante sai com cores que não são apelativas ao paladar das pessoas, já outras vezes, só pelo fato do “fazedor” da arte ter ouvido falar que o vermelho ajuda nesse ponto, ele simplesmente ajusta o gerador para usar todas as cores quentes e no final fica parecendo um cartaz de filme de terror.
Isso também pode ser aplicado aos geradores automáticos de site ou àquelas páginas de “Faça seu site de graça e em poucos minutos!”, que atrai sobrinhos e fazedores de bagunça.
Vou tomar um café, até breve!
nem me puxe o assunto dos “sobrinhos e fazedores de bagunça”… tenho que manter o linguajar profissional! kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
oi caraca que fodaa.
oi, caraca, brigada! hahaha <3